quarta-feira, 25 de junho de 2008

Vamos passear que as férias estão aí!



Eu sei que o nome do blog é Andando em PE, maaaaaaas resolvi abrir uma exceção pra divulgar um evento muito legal que vai rolar neste sábado, dia 28, no Rio de Janeiro. Fotografia, música e vídeos reunidos no Cine Lapa!

Já em terras pernambucanas, dia 05/07 vai ter deboche e iconoclastia no Quintal do Lima! Backing Ball Cat Barbis Vocal e os Bobs Babilônia (eita nome!) e The Playboys tocam e tiram onda a partir das 23h.


No dia 12/07, Eddie e Academia da Berlinda se apresentam no Clube Vassourinhas, em Olinda, a partir das 22h. Boa oportunidade de ouvir a nova música da Academia, Melô do Meninão
(http://www.youtube.com/watch?v=bB3LPsa9qRo).

E boas férias!

sexta-feira, 20 de junho de 2008

São João é na Capital do Forró!





Não adiante. Nesta época do ano, todos os olhares estão voltados pra Caruaru. Tá, tem vááááárias outras cidades do interior do Estado que também tem bons festejos juninos. Mas é como no carnaval: interior também tem, mas nada se compara a Olinda e Recife. Enfim.

Em junho, a cidade conhecida como “princesa do Agreste” se transforma na “capital do forró”. Em pleno São João, é quase uma missão impossível encontrar um lugar lá que não role um tengo-lengo-tengo. É forró pé-de-serra, estilizado... pra quem curte um rala-bucho é maravilhoso! Quem passar por lá vai poder dançar ao som de Santana, Petrúcio Amorim, Geraldinho Lins, Nando Cordel, Quinteto Violado, Jorge de Altinho, Dominguinhos, entre tantos outros que representam o cancioneiro do forró.

A festa fica concentrada no Parque de Eventos Luiz “Lua” Gonzaga, com uma área de 40 mil m². Lá e nos arredores, nove pólos de animação retratam diferentes manifestações culturais, como grupos folclóricos, mamulengos, bacamarteiros, bandas de pífano, aboiadores, coquistas, recital, repentistas, trios pé-de-serra, festival de quadrilhas, mostras de arte popular, entre muitos outros atrativos.

Para segurar o pique, nada como forrar o bucho direitinho, né? Quando enjoar de se empanturrar de comida de milho (o prato principal das festas juninas), uma boa pedida é a tradicional carne de bode. No Alto do Moura há vários restaurantes bons e baratos que servem o prato.

E para os consumistas, nada como a Feira de Caruaru! Como cantava Luiz Gonzaga, “A Feira de Caruaru/Faz gosto a gente vê/De tudo que há no mundo/Nela tem pra vendê”. E tem mesmo. Vestimentas, comidas muitas outras coisas mais com óóóótimos preços. Sacola cheia com pouca grana! E em meio a tantas barraquinhas, um tesouro escondido: o Museu do Cordel. Mantido por um dos mais conhecidos cordelistas ativos, chamado Olegário, o museu do cordel abriga diversas obras de cordel, dos mais variados autores.

Agora se seu barato é artesanato, vá ao Alto do Moura. Lá, cada residência se transforma em ateliê, envolvendo toda a comunidade local, desde o mais simples ajudante àqueles que moldam o barro transformando-o em arte. Hoje, arte e artesãos vêem suas peças ultrapassarem as fronteiras do país.

Também no Alto do Moura, mais precisamente à Rua São Sebastião, o Museu Mestre Galdino é composto por peças do ceramista e poeta popular Galdino. Ilustrando a exposição, exemplares originais de poesias, fotografias, e textos sobre a vida e obra do artista. Já na Rua Mestre Vitalino, o Museu Mestre Vitalino serviu de residência do grande ceramista e família. Foi transformada em museu em 1971. O acervo é constituído pela própria edificação, em tijolos crus, que data de 1959, de objetos de uso pessoal e familiar, onde retrata a vida simples do grande mestre.

Resumindo: aproveite a desculpa do São João e vá conhecer umas das cidades mais legais de Pernambuco!

Números e dados – Caruaru é considerada, geograficamente, a cidade-centro da Região Nordeste. Está situada no Agreste Setentrional pernambucano, proporcionando, assim, distâncias menores e um melhor escoamento da produção e intercâmbio comercial. A área do município é de 928 Km2, com acesso pelas BRs 232 e 104. A população total é, de acordo com o IBGE, de 253.634 habitantes, sendo 217.407 na zona urbana e 36.227 na zona rural. Suas principais fontes de renda são o comércio, destacado como um dos maiores do interior do Nordeste, a indústria e o turismo, pela tradição e pelo grande núcleo de produção artesanal do Estado.

quarta-feira, 11 de junho de 2008

Tirando leite de pedra - entrevista com Cannibal, da Devotos


A heróica banda de hardcore do Alto José do Pinho, uma das comunidades mais pobres do Recife, lugar onde a causa é diária e a auto-estima é coletiva, mistura arte e cidadania o tempo todo em seu trabalho. A antes Devotos do Ódio, e agora só Devotos, está comemorando 20 anos. Contestadora e preocupada com as mazelas sociais, é formada por Celo Brown (bateria), Neílton (guitarra) e Cannibal (baixo e voz). E é Cannibal quem conta um pouco da saga da banda, os desafios e conquistas do presente e os planos (ou a falta deles) para o futuro.


Dá pra viver só de música em Recife?

Só de música, não. Tem que ter outros meios de você ganhar uma grana, até mesmo pra auto-sustentar o seu maior prazer, se você for músico. Mas, só de música, em Recife, fica difícil.


A banda só lançou o primeiro CD em 1997, depois de quase dez anos de estrada. Você acha que se fosse atualmente demoraria tanto?

Não, claro que não. Naquela época era muito difícil gravar CD. Era muito difícil até ter banda! Era muito difícil até pra comprar instrumento, tanto que pra fazer a banda, a gente começou com instrumentos emprestados e depois fez nossos próprios instrumentos. Era muito difícil. E principalmente quando chega na fase em que você decide o que quer ser da vida, músico. Então tem que gravar um CD. Naquela época não tinha a tecnologia que se tem hoje. Não tinha internet, não tinha nada. A gente só gravaria se fosse pra dentro do estúdio, e estúdio era muito caro. Então os nove anos que a gente passou pra gravar um disco naquela época, em menos de um ano a gente gravaria um disco hoje.


Como tem sido a relação de vocês com a internet?

A internet é o principal meio de comunicação pra gente. Hoje em dia a gente marca muito show pela internet. A gente tem um intercâmbio direto com a rapaziada dos festivais, os produtores e tal. Praticamente a gente faz tudo pela internet para poder marcar o show. Fora isso, a gente tem também no site vídeos, músicas, fotos. Tudo a gente coloca no site pras pessoas se informarem sobre o que está acontecendo com a Devotos. Principalmente porque a Devotos é uma banda que toca muito pouco, principalmente aqui em Recife. Muita gente às vezes acha que a banda não está mais tocando, acabou ou coisas desse tipo, e de repente a banda aparece. Então justamente pra isso, pra mostrar pras pessoas que a banda está tocando, está rolando, está fazendo show, está gravando clipe, ou está fazendo qualquer outro tipo de trabalho.


Você falou que a banda tem tocado pouco aqui no Recife. Então em qual estado do Brasil que vocês têm tocado mais?

O lugar que a Devotos mais toca é São Paulo. A gente vai lá pelo menos umas duas ou três vezes por ano. E quando vai, toca um mês, um mês e meio, faz na base de 10,15 shows. Então é o lugar que a gente mais toca. Goiás também, Tocantins, João Pessoa, foram os últimos shows. E agora estamos indo pra o interior aqui de Pernambuco, na época de São João sempre rola umas paradas.


Como está a ONG que vocês fazem parte, a Alto-Falante?

A Alto-Falante é a nossa menina dos olhos. Às vezes a gente até meio que prioriza a ONG e deixa algumas coisas nossas de lado. Agora estamos com as oficinas de rádio comunitária, que estão rolando lá no Alto José do Pinho, e estamos com os eventos, os shows - o último que teve foi agora dia 25. Temos o projeto de colocar rádios difusoras, como é a do Alto José do Pinho, em outras comunidades. Já colocamos uma na Ilha de Deus, uma na comunidade do Pilar e uma lá na Muribeca, e tem uma pra colocar em uma comunidade aqui de Recife que eu não lembro o nome agora. Por enquanto, é isso que a ONG está fazendo. Estamos com um projeto agora de uma sede, que a gente não tem sede, a maioria das coisas que a gente faz é na rua ou com algum espaço de alguma entidade lá do Alto José do Pinho. Estamos precisando de uma sede há muito tempo, pra poder fazer um trabalho mais concreto, pra fazer uma trabalho diário, pra fazer um trabalho permanente.


Como anda a cena musical do Alto José do Pinho?

Depois do movimento mangue e de toda aquela efervescência, já surgiram bandas como Os Maletas e The Míopes, que é uma banda só de meninas. Está rolando lá no Alto José do Pinho uma oficina muito legal, é um projeto chamado Escola Aberta. Quem dá essa oficina é um menino lá da comunidade chamado Cal, que é do Maracatu Estrela Brilhante. É uma coisa maravilhosa, muito legal, porque várias crianças e vários adolescentes estão participando dessas oficinas, não só lá no Alto, mas também em comunidades vizinhas. Então a cultura do Alto sempre está rolando, a gente não sabe onde vai parar. Mas o legal de tudo isso é que a gente está passando essa responsabilidade para eles mesmos, pra própria comunidade. Eles não ficam só esperando alguém da ONG para aquilo acontecer. Eles também correm atrás pra querer mostrar seus trabalhos, e eu acho que isso é uma coisa positiva.


Embora de uma certa forma pertencentes ao movimento mangue beat, vocês nunca misturaram o som da banda com ritmos regionais, sempre fizeram um hardcore puro. Nunca tiveram vontade de tentar outras sonoridades? O que mudou no som da Devotos depois desses anos?

A Devotos é uma banda que nunca imaginou colocar qualquer elemento que lembrasse o movimento mangue, principalmente algum elemento percussivo. A gente nunca pensou em fazer isso, nem antes nem depois do movimento. A gente achava que isso aí era pegar carona numa coisa que estava acontecendo, e que não tinha o nosso sentimento, a gente não tinha sentimento por aquilo pra se colocar na música, a não ser de ver, de curtir, de gostar e de ter os amigos dentro do movimento mangue. Isso dentro da Devotos ia soar uma coisa muito falsa. A Devotos sempre foi uma banda de hardcore e vai continuar sendo uma banda de hardcore. Umas das coisas que a gente conseguiu mudar foi o nome. A gente deixou de ser Devotos do Ódio pra ficar só Devotos. Mas a intenção era furar barreiras que a gente tinha por causa do preconceito com o nome. É o nome de um livro de José Louzeiro, mas as pessoas sempre achavam que a gente fazia apologia à violência por causa desse nome. Aí a gente resolveu deixar só Devotos e fazer nosso próprio trabalho, porque você pode mudar seu nome mas não pode mudar seu caráter. Então não tem como você mudar o som da Devotos porque as pessoas são as mesma, que faz as letras sou eu, então não tem como eu mudar só por causa do nome.


Agora que o nome da banda passou de Devotos do Ódio para Devotos, o ódio passou?

Nada, a gente está com cada vez mais ódio! Tem muita coisa a ser questionada, a ser mudada. A gente tem que fazer o nosso papel pra mudar o que está acontecendo no mundo. A gente sabe que é difícil, mas não é impossível. A gente conseguiu mudar o preconceito dentro de uma sociedade com relação ao Alto José do Pinho. Hoje em dia você vê muitas pessoas visitando o Alto José do Pinho, principalmente pessoas de faculdade, de classe média, fazendo oficinas de maracatu, afoxé. Então a gente vê que houve uma mudança em relação ao preconceito que se tinha contra o Alto José do Pinho. Se a gente conseguiu isso com o Alto, a gente pode conseguir com várias outras comunidades.


O show de comemoração dos 20 anos da banda, que aconteceu no Rec Beat deste ano, teve um público de mais de 5 mil pessoas. No site da banda, você fala que haverá outros eventos para celebrar as duas décadas da Devotos. Quais serão esses eventos? Que novidades podemos esperar esse ano?

Pra este ano está prevista a gravação do CD ao vivo, que vai ser patrocinado pela Petrobrás. A gravação desse CD ao vivo vai ser no Alto José do Pinho, com a participação do Zé Brown (vocalista do grupo de hip hop Faces do Subúrbio), do Adilson (da banda de hardcore Matalanamão), do Lirinha (vocalista do Cordel do Fogo Encantado), da Pitty e do Clemente (vocalista da banda punk paulistana Inocentes, principal influência da Devotos). E estamos colocando agora um projeto dentro do Funcultura, pra ver se a gente consegue a captação de imagens, pra aproveitar toda a estrutura de som e de luz, que vai ser muito boa, pra gravar o DVD.


Para finalizar, quais os planos da Devotos para os próximos 20 anos?

A gente nunca pensou no que vai acontecer daqui pra frente com a Devotos. Estamos sempre pensando no presente, naquilo que está acontecendo agora. O futuro a Deus pertence, então a gente sempre tem o pé no chão, porque é difícil batalhar. A cada dia a gente tem que tirar leite de pedra pra banda estar viva, estar acontecendo, e a gente sabe que a banda é necessária para mudar um quadro dentro de Pernambuco, dentro do Brasil.

segunda-feira, 9 de junho de 2008

Últimas e penúltimas

Olá, pessoas! Como já faz um tempo que não atualizo esse singelo blog, resolvi contar algumas novas.
  • Neste último fim de semana aconteceu a 6ª Convenção de Tatuagem do Recife, no Armazém 14, Bairro do Recife. O evento reuniu cerca de 120 tatuadores, além de vários tatuados e não-tatuados admiradores desta body art. Nos estandes, mostras dos trabalhos e dos novos produtos da área. Houve arrecadação de alimentos não-perecíveis para a ONG Fundação Relicário das Comunidades de Pernambuco. É isso aí, além de enfeitar o corpo, fazer uma boa ação!
  • Saiu a coletânea Combat Samba, da banda Mundo Livre S/A. Totalmente excelente! Além de reunir os hits (se é que podemos chamar assim as canções mais conhecidas do Mundo Livre. Infelizmente, bandas boas como essa não chegam ao grande público por serem praticamente ignoradas pela mídia local!) do grupo, o álbum traz ainda uma música inédita, Estela (A Fumaça do Pajé Miti Subitxxi). Vale a pena conferir!
  • The Playboys está em estúdio, gravando o segundo CD, que deve se chamar Chega de Niilismo. O álbum contará com a participação especial de Wander Wildner. Eles prometem repetir o sarcasmo do trabalho anterior. Quem será o "Paulo André" da vez?
Por hoje é só. Se souber de algum evento legal, me conta!

Festival Abril Pro Rock - parte 2


Olá, pessoas! Continuo aqui a minha saga no Abril pro Rock 2008.

Bem, 27 de abril, domingão de chuva, mas lá vou eu. As atrações da noite são as lenda do heavy metal melódico Helloween e Gamma Ray, que estão percorrendo várias cidades do Brasil e do mundo juntas com a Hellish Rock Tour. O que se espera de um show de heavy metal melódico? Um mar sem fim de camisas-pretas na platéia, vocais agudos e solos de guitarra miraculosos no palco. E isso aconteceu. As bandas alemãs cumpriram todos os clichês que se esperam de grupos do gênero. Podiam ter parado aí, mas foram além. O que podia ter sido bom foi simplesmente inesquecível!

Gamma Ray abriu a noite com Into the storm, do novo álbum Land of the free II. E seguiu entoando tanto canções novas quanto hits cantados por boa parte do público. Destaque para Heavy Metal Universe, que realmente agitou quem estava por lá. Kai Hansen e companhia pareciam adolescentes serelepes, brincando com a platéia pulando para lá e para cá e fazendo passinhos coreografados (preciso comentar: um dos guitarristas é a cara do Iggy Pop!). Um bom show, mas não foi "o" show.

Esse título fica para o Helloween, impecável do início ao fim. Arrasou, como diz a gíria GLBTT! Vocal excelente de Andi Deris e instrumentos tocados com uma perfeição impressionante. Momento karaokê: a clássica Eagle Fly Free, cantada praticamente em uníssono. Headbangers abraçados e pulando juntos, foi bonito de se ver.

No fim, a apoteose da noite: as duas bandas detonando juntas!Todos no palco (exceto por um dos bateristas, não sei de qual dos grupos), tocaram Future world e I want out. Simplesmente extasiante, o fechamento perfeito para uma noite que provavelmente não sairá da cabeça de quem presenciou. Pra quem não foi: pode chorar, que outra dessa não tem, não!

Fofoca de bastidores: em conversa no backstage, Sascha Garstner, guitarrista (grande guitarrista, em todos os sentidos: o cara tem 2m de altura!), confessou que o entrosamento entre Helloween e Gamma Ray está restrito ao lado profissional, ou seja, eles não são o que se pode chamar de amigos. Que coisa, né?

Até a próxima!

Festival Abril Pro Rock - parte 1

Olá, pessoas! Com quase uma semana de atraso, aí vão as minhas considerações sobre o festival Abril pro Rock deste ano. O novo lugar (antes era no Centro de Convenções, agora é no Chevrolet Hall) causou estranheza. Por ser muito amplo para o público do festival (que é de aproximadamente três mil pessoas, sendo que o Chevrolet comporta doze mil!), deu a sensação de vazio, de pouca gente. A platéia não foi das mais animada. Mas no geral, organização ok (exceto por algumas falhas no som) e shows muito bons! Bem, só vou comentar os shows que eu realmente prestei atenção, pra não ser injusta! Aí vai:

Shows da sexta (11/04)

The Sinks (RN) faz um rock inspirado no hardcore californiano. Inclusive cantam em inglês também. Eles tocam bem, mas não fazem nada que outras 7854123 bandas não façam.

Não cheguei a assistir ao show da Project 666 (PE), mas eles souberam vender o peixe deles direitinho! Muita gente com button e camisa do grupo. Viva o marketing!

Mukeka di Rato (ES) foi a alegria de quem gosta de roda de pogo. Um hardcore lépido e ligeiro, que fez a galera bater cabeça.


Show do sábado (12/04)


Bem, o som da Sweet Fanny Adams (PE) em si não é ruim. O problema é que a maioria das músicas lembra outras de bandas conhecidas, como Sex Pistols e The Vines. O fato de cantar em inglês também não ajuda muito. Mas a banda já tem um certo público, o que fez com que o show fosse animado.

Embora muito divertida, a Barbiekill (RN) foi um pouco prejudicada pela a(nti)patia da platéia. O estilo new rave da banda (que lembra bastante a sonoridade do Bonde do Rolê) não ficou só no som. A influência dos anos 80 também está presente na irreverência da banda, que brinca o tempo todo, seja com a platéia ou entre eles.

O show do Autoramas (RJ) foi o primeiro “showzão” da noite. No repertório, maravilhas como “Você Sabe” e “Nada a Ver” botaram o povo pra mexer o corpitxo. Guitarra toda poderosa a de Gabriel! Ah, menção honrosa para a “dança da cabeça” que a banda faz, bem divertida!

Além do aparente nervosismo, Vitor Araújo (PE) foi um tanto quanto prejudicado devido ao som estar muito baixo. Mas quem realmente queria ouvir o performático pianista se aproximou do palco. Ponto pra Vitor, que não deixou a peteca cair e arrancou gritos e aplausos do público com a sua mistura de música erudita com outros ritmos, como jazz, frevo e rock.

O que salvou o show do Jupiter Maçã (RS) de ser um total fiasco foi a conhecida música “Um lugar do Caralho”, cantada em uníssono por quem assistia a performance. De resto, o cantor bem que se esforçou, mas não conseguiu animar a platéia.

Momento jovem guarda da noite: Rockassetes (SE). Um rock simples e bem feito, que fez muita gente se sacudir, e até mesmo arriscar uns passinhos rockabilly.

Confete e serpentina para Wander Wildner (RS)! Um show excelente, com canções do seu novo (e muito bom) cd, “La Cancion Inesperada”, além das conhecidas. Grata surpresa: “Eu não consigo ser alegre o tempo inteiro” e “Bebendo vinho” em ritmo de frevo!

A cantora CéU (SP), umas das atrações ,mais aguardadas, não decepcionou. A mistura de MPB com música eletrônica, a voz linda e a barriguinha de seis meses de gestação dela conquistaram quem conferiu o show.

The Datsuns (Nova Zelândia) mostrou a que veio, e conseguiu agitar uma platéia já cansada pelos 13 shows anteriores. Rock com influências punks de primeiríssima linha. Guardem esse nome, essa banda ainda vai bombar!

O trio de rock instrumental Pata de Elefante (RS) mandou ver no rock instrumental, com um toque bem psicodelia dos anos 70. Preparou a galera pra o show mais aguardado da noite.

Quem? Lobão (RJ)! Simplesmente magistral! Embora o comentário geral fosse que, apesar dele está fazendo a turnê do “Acústico MTV”, o show seria “plugado”. Principalmente depois do fiasco que foi a apresentação “desplugada” no UK Pub, há alguns meses atrás. Mas a apresentação no Abril foi a redenção. Animou uma platéia pra lá de cansada após a maratona dos 14 shows anteriores!!!


E o Abril pro Rock ainda não acabou! Dia 27 as lendas do metal Helloween e Gamma Hey aportam por terras olindenses pra fazerem um show que promete!


E por hoje é só!

Um certo Van Gogh

Com algumas semanas de atraso, vou contar como foi a peça "Um certo Van Gogh", produzida e protagonizada pelo ator Bruno Gagliasso, o qual eu ia entrevistar, juntamente com o resto do elenco do espetáculo, para um trabalho da faculdade.
Devido a alguns contratempos que não valem a pena serem citados, cheguei eu cinco minutos antes dos atores começarem a se aquecer, o que fez com que as entrevistas fossem adiadas para depois da apresentação.
E lá vou eu ver a apresentação!
Platéia cheia de teenagers tietes do Gagliasso,embora também houvesse uma boa quantidade de casais mais velhos. Será que o enredo é direcionado ao público teen ou aos mais "maduros",digamos assim?
Bem, a história trata de um jovem chamado Timóteo. Rapaz de alma irrequieta e angustiada, se descobre ao ser apresentado à obra do pintor holandês Vincent van Gogh. Vê neste o espelho de suas inquietudes e ansiedades. E, assim como o artista plástico, tem um irmão que tenta protegê-lo de suas supostas "insanidades". E vão se seguindo paralelos presente e passado, as trajetórias de Timóteo e Van Gogh. Na montagem, o pintor não é retratado com um louco, como se fez pensar à época, mas um homem brilhante que transformou a arte. E assim discute-se loucura e normalidade, e seus tênues limites.
Em resumo, uma produção muito boa, que espero ter feito com que as adolescentes tenham saído com algo mais na cabeça do que a beleza do protagonista.

Voltei pra casa com satisfação garantida! :)

Miró, o Recife aos olhos da poesia independente


Camisa verde, colar de semente, óculos ray ban (falsos, como ele faz questão de frisar).Assim chegou João Flávio Cordeiro da Silva, o Miró, para a nossa entrevista. Morador da Muribeca, bairro periférico da cidade de Jaboatão, pegou uns dois ônibus pra chegar ao nosso local combinado, o shopping Tacaruna. Não era exatamente o melhor lugar do mundo, mas era o mais seguro em pleno sábado de aleluia! Já chegou esbanjando simpatia, e não se mostrou incomodado de sair de casa em pleno feriado. Entre alguns chopes e o barulho ao redor, rolou o nosso papo. Miró é artista e poeta até conversando. Gesticula, faz careta. Expressivo até não poder mais!É a representação do Recife nos seus gestos, na sua linguagem, no seu jeito. E quando declama, não tem quem desgrude os olhos dele!Desenrolado que só ele, fala (e como fala!) sobre tudo o que se pergunta: início de carreira, Recife, educação, relação com o meio universitário... João Flávio Cordeiro da Silva nasceu no Recife há 46 anos. Foi transformado em Miró pelos amigos, porque lembrava Mirobaldo, um craque do time do Santa Cruz. Ele é um acúmulo de surpresas. É um poeta que jamais entrou na universidade, mas já recebeu várias homenagens e prêmios no meio acadêmico.Ele não precisou passar por tradições literárias em seu currículo. Sempre que Miró acaba de recitar uma poesia a platéia vai ao delírio. O poeta fala de um mundo abaixo do nível de quem está ouvindo. O primeiro elemento cômico é que a miséria é engraçada. Traições, “bacolejos” e a sujeira da cidade do Recife tornam-se motivos de risada. Por ser um poeta independente, a sua arma e o seu humor é a verdade. São aquelas coisas mínimas, constrangedoras, que não confessamos nem às paredes, ele, como um louco, expõe. Mais do que escrever, ele repassa o que não está ao alcance dos olhos da sociedade. Dotado de grande talento, criatividade, consciência e conhecimento do que se faz, Miró prova que a receita para se conquistar um espaço na estante ou no pensamento dos ouvintes não são palavras difíceis ou falar de uma realidade distante. Ele mostra a poética presente bem pertinho de nós, no cotidiano. Deixo aqui um poema dele pra vocês conhecerem um pouco desse genial poeta pernambucano, embora não muito conhecido:

DE MURIBECA AO CENTRO

O cheira-cola coçando piolhos
De frente ao aeroporto
Fantasias eróticas
Domingo e segunda-feira -21 hs- não percam!!
Um pedreiro negro sem camisa e chapéu
Dizendo ao patrão branco
O que tá faltando na construção do mundo.
Dois caras encostados na estátua da calçada do Geraldão
Na inércia de uma Terça nublada
O motorista do ônibus dá um banho num cara de gravata todo arrumado
é melhor evitar a Mascarenhas de Moraes (disse o cara pelo celular)
uma sirene da polícia bem alto avisando ao ladrão que está chegando
um ser humano se arrastando no alumínio do ônibus
descendo com duas moedas de 10 centavos

Poeta Miró
In: Poemas para sentir tesão ou não; Recife, 2001